Fenômeno Impostor

Uma profissional altamente respeitada poderia dizer: “Acabei de conseguir meu emprego por um acaso, eles precisavam de alguém no meio do ano e poucos candidatos qualificados foram aplicados”. Mas na realidade essa pessoa estava entre os candidatos de maior classificação, porém atribuiu todo seu sucesso a outras variáveis. Tal cena mostra que certamente ela sofre com a síndrome do Impostor.

Apesar das várias conquistas e reconhecimentos, as pessoas que experimentam o fenômeno Impostor não conseguem internalizar seus sucessos e atribuem suas realizações ao trabalho árduo, a sorte, conhecer as pessoas certas, estar no lugar certo no momento certo, ou aos seus recursos interpessoais, como o charme e a capacidade de se relacionar bem, ao invés de real habilidade ou competência. 

De forma geral, Clance e Imes, pesquisadoras da área, descreveram que pessoas com o fenômeno Impostor tem medo que os outros supostamente possam descobrir que elas não são verdadeiramente inteligentes, mas sim “impostores”. Clance relata que, dependendo do nível do fenômeno apresentado, ele pode causar vários prejuízos no cotidiano e a longo prazo na vida do indivíduo, fazendo com que este não mostre todo seu potencial e até mesmo não aceite novas oportunidades. 

Apesar de rapidamente reconhecido por várias pessoas como uma demanda latente, os estudos sobre o fenômeno do impostor ainda são rudimentares em Atlanta, Estados Unidos, onde originaram-se com Clance e Imes em 1978, e são quase inexistentes no Brasil. Devido a escassez de pesquisas, sua existência ainda não foi validada na sociedade brasileira, ainda que algumas características já foram descritas, não temos pesquisas sólidas que façam uma avaliação dos aspectos do fenômeno Impostor no Brasil até então.

A origem do fenômeno Impostor pode estar associada à dinâmica familiar. Os estilos de criação parental podem afetar estruturalmente o entendimento de realização de uma criança, levando a influenciar diretamente a forma como ela aprende a lidar com sucesso e com o fracasso.

Uma das características do desenvolvimento da síndrome pode se dar, por exemplo, quando o indivíduo normalmente ainda infante,  tem algum parente próximo que foi “rotulado” como o “inteligente” da família. A criança então pode criar a dúvida sobre suas próprias características e pensar que nunca conseguirá provar que ela é tão brilhante quanto seu parente. Tal criança pode então começar uma busca para encontrar maneiras de obter validação quanto a sua competência intelectual. Assim que consegue algum sucesso, ela tende a acreditar que sua família estaria  correta quanto ao parente, e acaba duvidando secretamente de seu intelecto, começando a se perguntar se ganhou suas altas notas através da sensibilidade às expectativas dos professores, habilidades sociais ou charme, assim, encetando o fenômeno Impostor. 

A Síndrome do Impostor também pode acontecer quando a família transmite à criança que ela é superior em todos os sentidos, “não há nada que ela não possa fazer”. A criança, no entanto, começa a ter experiências em que não pode fazer tudo o que quer. Ela enfrenta dificuldades em alcançar certas conquistas, mas sente-se obrigada a cumprir as expectativas de sua família. Quando ela vai à escola, suas dúvidas sobre suas habilidades são intensificadas. Embora ela faça um trabalho excepcional, ela tem que estudar para fazer bem, fazendo-a concluir que na verdade deva ser  “burra” e certamente deva ser uma impostora intelectual, já que está fazendo com que todos acreditem no contrário.

Os sentimentos do Impostor frequentemente são acompanhados por sintomas que incluem depressão, falta de autoconfiança, frustração, baixa auto-estima e ansiedade, decorrente da pressão de viver a imagem bem sucedida e por temer que seja exposto. Muitas pessoas acabam se identificando com o sentimento que são impostoras em suas vidas, em suas posições, porém vale ressaltar que a possibilidade de entrar em um processo terapêutico pode auxiliar o indivíduo a entender que esse sentimento não é real. Se você estiver sentindo que é um impostor, que geralmente busca alternativas para explicar o seu sucesso ou que tem dificuldades de se entender como alguém intelectualmente capaz, procure ajuda psicológica, pois é bastante provável que você esteja se esquivando de oportunidades e sofrendo gratuitamente.

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